Cristian Ferreyra é o atual Diretor Logístico da Tandem Up (Grupo Viko), e o fundador do Hublogistico, uma academia especializada em formação logística. Ferreyra é também docente em várias escolas de negócios. Empreendedor por natureza, gosta de partilhar a sua experiência no tema da Gestão da Cadeia de Abastecimento com o objetivo de integrar a inovação no setor.
Qual é a sua perspetiva para o setor da logística este ano?
O setor tem demonstrado uma constante importância no contexto das organizações. A atividade logística foi identificada como um sendo um centro de custos, necessário para o desenvolvimento das vendas, mas sempre com o intuito de fornecer serviços ao menor custo possível.
Este ano irá consolidar as mudança a que temos assistido desde a pandemia. Ter uma estratégia logística demonstrou ser fundamental à viabilidade dos negócios, e a logística de valor acrescentado está a tornar-se num motor de captação de compras, de retenção de clientes e de potenciação de vendas cruzadas.
Temos uma cadeia de abastecimento sólida? Que lições aprendemos com as ineficiências trazidas pelas pandemia?
Ainda há um longo caminho a percorrer para termos cadeias de abastecimento globais. Muitas organizações não têm ainda visibilidade para saberem onde estão localizadas as suas mercadorias. A cadeia de valor é tão extensa, global e diversificada que controlá-la de ponta a ponta é um desafio bastante complexo.
Na minha perspectiva, só iremos alcançaremos altos níveis de controlo e execução quando conseguirmos ter a visibilidade necessária para acompanhar o que está a acontecer em todas as fases do processo.
Como lições aprendidas, é importante destacar a adoção de torres de controlo por cada vez mais empresas, e a rastreabilidade de ponta a ponta por meio de ferramentas digitais, como é o exemplo dos SaaS.
Há consciência sobre a importância da digitalização e relativamente às vantagens de integrar tecnologias?
Sim, há. Vários estudos publicados pós-pandemia destacam a crescente importância da digitalização, um tema que tem vindo a ter lugar nas mesas de gestão das empresas. Estamos perante uma economia 4.0, no meio da era da transformação digital, e a logística é uma das grandes áreas negligenciadas na discussão deste tema. As mudanças que podem ocorrer com o acompanhamento ou não desta tendência são abismais. Por exemplo, as empresas tradicionais (e analógicas) estão agora a lutar pela quota de mercado que perderam para os intervenientes digitais.
Considera que existe um problema de talento no setor? Existe oferta formativa suficiente?
Este é um ponto de destaque na discussão, porque a tecnologia não irá funcionar sozinha. Temos de investir em equipas dinâmicas, ágeis, digitais, orientadas por dados, que se sintam confortáveis com as constantes mudanças do mercado. Na nossa perspetiva, o mercado oferece uma proposta de formação obsoleta no que toca à logística: em Marketing ensinam o crescimento através da Inteligência Artificial, em Programação ensinam a arquitetura da rastreabilidade através de Blockchain e em Logística ensinam Excel e Manuseamento de Empilhadores.
“O mercado oferece uma proposta de formação obsoleta no que toca à logística: em Marketing ensinam o crescimento através da Inteligência Artificial, em Programação ensinam a arquitetura da rastreabilidade através de Blockchain e em Logística ensinam Excel e Manuseamento de Empilhadores”
O que irá revolucionar a indústria na próxima década?
Provavelmente a Internet das Coisas (IoT), a Inteligência Artificial (IA), e a auto-condução. A combinação destas tecnologias irá permitir que automatizemos tarefas de pouco valor que até hoje temos feito à mão e/ou de forma muito ineficaz. A escala que pode é possível atingir numa operação 24/7, potenciando a robótica, a análise avançada e a tomada de decisões regulamentares, muda completamente o jogo.
A inflação e a redução do consumo está a afetar todos os setores, incluindo o comércio eletrónico. Acha que isso terá um impacto significativo na atividade do setor?
Absolutamente, e para além disso vejo este impacto a chegar mais longe que o o comércio eletrónico. Do meu ponto de vista, o comércio eletrónico isolado, a discussão de hoje está na onicanalização, ou seja, a presença da marca (com níveis de serviço elevados e consistentes) em todos os canais de venda: comércio eletrónico, loja, marketplace, retalho, redes sociais, etc. A redução do consumo atingirá a empresa no geral e irá afetar todos os canais.
Tem-se verificado, e provado pelos números, um patamar de picos de vendas em eventos. A utilização do comércio eletrónico como alavanca de vendas para a Black Friday, Cyber Monday e outras datas digitais atingiu o seu ponto máximo de eficácia, já não surpreende o consumidor, e não o apanha desprevenido.
Como podemos tornar a logística de última milha mais sustentável?
Limitando cada vez mais o modelo. Menos espaço para grandes veículos em áreas urbanas, menos espaço para a combustão de gasóleo, menos entregas expresso, taxas de entrega ao domicílio mais baixas. Infelizmente habituámo-nos a ser uma sociedade que cede aos nossos gostos e caprichos sem pensar no que está do outro lado de cada clique, e a única forma de mudar hábitos é confiar na regulamentação que é prejudicial ao uso (e abuso) do pessoal sobre o coletivo.
Será também fundamental deixar de ocultar/subsidiar o custo real da distribuição urbana de bens, é banal, mas repeti-lo-ei indefinidamente “não existe transporte gratuito”, alguém tem de o pagar: o vendedor, o cliente ou o planeta.
“Não existe transporte gratuito, alguém tem de pagar por ele: o vendedor, o cliente ou o planeta“.
As transportadoras a apostar firmemente em cacifos, mas será que o cliente final está disposto a desistir da entrega ao domicílio?
Isto está diretamente relacionado com o ponto anterior. Por vezes é necessário dar uma pequena ajuda. A discussão sobre se “o cliente está disposto a desistir…” está diretamente relacionada com a facilidade de acesso. Enquanto existir “entrega gratuita” como um discurso de mercado coletivo, será difícil dissuadir o público de escolher essa opção.
Qual acha que seria a melhor forma de reduzir o impacto das devoluções online?
A seleção natural do mercado indica que a solução é “cobrar por eles”. E a um certo ponto concordo, porque como consumidores habituámo-nos à compra fácil, impulsiva, indiscriminada, com pouca consciência. Levamos 3 e devolvemos 2, recebemos um reembolso imediato e assim continuamos. O modelo não é sustentável (nem economicamente, nem ambientalmente) e agora há um Inverno financeiro, por isso as empresas procurarão regressar à rentabilidade, cortando pela raiz a torneira livre de preparar mais envios de e para o cliente. O que, a propósito, não é gratuito.
Parece que uma das principais tendências deste ano no comércio eletrónico é o Social Shopping com a chegada do TikTok Shopping a Espanha. Pensa que há algum potencial aqui?
Claro que sim. Com a seleção dos influencers certos, uma variedade de referências, e canais de atenção massiva para os compradores, esta abordagem tem provado ser altamente eficaz na Ásia, nos EUA e agora na Europa.
Atualmente há uma guerra pela atenção das pessoas e, neste sentido, as redes sociais estão na vanguarda da captação da atenção do público (independentemente da idade) e, juntamente com a gamificação, chegará o tempo das compras híbridas, salas de prova virtuais, e bens/tokens digitais a sere utilizados nestas plataformas.
Se tiver alguma dúvida sobre como pode digitalizar a sua logística, a Deliverea pode aconselhá-lo!
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